Acabou. Neste momento somos vistos como números, pouco interessa se te esforças muito, se tens a mulher doente, etc. Interessa é que faças o teu trabalho e sem muita conversa. A história dos direitos e deveres é uma treta, estamos no comer e calar, porque ou queres assim, ou vem outro para o teu lugar a fazer o mesmo e a ganhar menos...
Digo isto não em relação à minha empresa directamente, mas em termos globais, excepto na função pública, claro.
Nesta época de suposta crise o que é que as grandes carolas pensaram? Ah, estamos a diminuir competitividade e lucros? Então vamos fazer assim, pessoas que estejam "encostadas" com mais de 20 anos na mesma empresa, vamos despedi-las com extinção do posto de trabalho. Os que estão em idade de trabalhar estão lixados porque ao fim e ao cabo não sabem fazer nada e não vão arranjar trabalho, os que estão em idade de pré-reforma, desenrasquem-se. Ficam no desemprego, depois pré-reforma com penalização e está feito. Ou seja, os que trabalham é que vão sustentar isto tudo, primeiro o subsídio de desemprego, depois a reforma milionária do trabalhador com 20 anos de casa, que passou pelo tempo das vacas gordas, com aumentos duas vezes por ano, etc...
Mas espera lá, as pessoas que despedimos, pelo pouco que faziam, fazem falta. Então temos de contratar, já sei, vamos contratar malta nova, a estágios e com contratos a prazo, a ganhar menos 3 ou 4 vezes que os que estavam lá antes, e não lhes damos condições laborais nenhumas. Aguentem-se com pouco mais que o ordenado mínimo e mais nada. Passado o tempo do primeiro estágio ou primeiro contrato, diz-se que está mau, que se vai tentar melhorar as condições, mas é só treta, esta conversa prolonga-se até ao último dia do contrato em vigor, e propomos a mesma coisa por mais uns tempos e se querem, querem. Se não querem arranjamos outros nas mesmas condições! Há por aí muita malta nova com casas e carros para pagar, por isso basta oferecermos os € que cheguem para eles pagarem aos nossos amigos dos bancos o que lhes devem... O que acham???
Brilhante. Brilhante!
Moral da história, eles, os empresários, só se aproveitam das ideias brilhantes que os políticos tiveram. Aproveitam para mandar uns quantos embora, deixam de ter o bolo gigante de ordenados e regalias que as pessoas conseguiram ao longo dos anos. E propõem piores condições a novos trabalhadores que estão desempregados e desesperados à procura de sobreviver. Eu se calhar fazia o mesmo, é a natureza do ser humano, mas custa estar do lado de cá, falar com pessoas e perceber que anda tudo descontente, mas ninguém faz nada, porque estamos atolados em dívidas até não conseguir mais! Em Espanha, 1 em cada 2 jovens não tem trabalho, e andam todos à batatada pelas ruas. Nós não, deixa-me mas é estar aqui sossegadinho no meu canto para ver se ninguém descobre que eu ainda me safo ao fim do mês com uns negócios escuros que me dão alguns €...
Isto é uma questão de mentalidades, nós temos de perceber que muitos empresários portugueses actuais viveram oprimidos numa ditadura a 100%, e até aqui valia tudo. E pior, acho que os trabalhadores até gostavam disto. Podiam não ter liberdade de expressão, etc ganhavam bem e tinham boas regalias...
Agora isto virou, e os lucros começaram a baixar nos últimos tempos, então tem de se dar um abanão na sociedade. Toca a despedir malta e a dar precariedade às pessoas que isto bate no fundo e depois começa a subir outra vez lentamente.
A malta nova que trabalhe, e muito. Acho que nunca mais vamos chegar às condições de vida que muita gente na casa dos 50 tem hoje em dia.
Desabafo. Pode estar confuso, mas tinha de ser escrito.